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Divulgação/ MSP

Mauricio de Sousa diz que leitores estão mais exigentes

Entrevistamos com exclusividade o Walt Disney do Brasil, o criador da Turma da Mônica

Danilo Sardinha, publicado em 29/03/2011.
Você pode nunca tê-los conhecido pessoalmente, mas é bem provável que Mônica, Cebolinha, Cascão, Chico Bento e muitos outros tenham feito parte da sua infância. Está lembrado de quando Mônica corria atrás de Cebolinha para acertá-lo com o coelho Sansão? Ou das vezes em que Cascão se escondeu para fugir da água?

Se essas imagens vieram em sua mente e lhe trouxeram boas recordações, agradeça a Maurício de Sousa. É ele quem dá vida a esses personagens, que divertem há décadas crianças do Brasil e do mundo.

Mauricio de Sousa nasceu no dia 27 de outubro de 1935 e é um fenômeno na criação de desenhos. Com mais de 50 anos de carreira, já teve mais de um bilhão de revistas publicadas. Suas histórias chegaram a mais de 120 países e foram traduzidas em 50 idiomas.

Por trás de tamanho sucesso existem alguns segredos. E OsPaparazzi descobriu quais são em uma entrevista exclusiva com o desenhista.
Maurício de SousaFoto: Divulgação/ MSP

Entrevista com Maurício de Sousa:

Quando surgiu seu interesse pelo desenho?
Maurício de Sousa: Pais poetas, escritores, compositores, pintores (meu caso) nos cercam de um ambiente todo propício para seguirmos o caminho artístico. Nada como abrir os olhos num ambiente com música, livros, desenhos, criatividade. Assim, aprendi a folhear livros desde bebê, a ver figuras desde sempre, a ler desde que me caíram nas mãos os primeiros gibis.
'A criança nunca morre dentro de uma pessoa que já virou adulta'Foto: Lailson dos Santos/ Divulgação MSP)
Suas primeiras ilustrações publicadas foram as tirinhas de Bidu e Franjinha, no jornal Folha da Manhã (atual Folha de S.Paulo), em 1959. Naquela época, seus planos eram fazer quadrinhos somente para jornais ou você já enxergava aquele trabalho como um trampolim para projetos maiores?
Maurício de Sousa: Eu gostava muito de desenhar quadrinhos e fui ao jornal Folha da Manhã tentar publicar meus desenhos. Como não consegui de imediato, acabei entrando no jornal como copidesque (similar a um revisor de textos) e depois passei a repórter policial. Com o tempo, consegui começar a publicar minhas tiras. O público leitor do jornal é adulto, mas, de alguma forma, os personagens ganharam também o público infantil - e com muita força. Comecei a publicar, então, suplementos infantis dentro dos jornais. Foi um caminho natural.

A Turma da Mônica é a sua produção que mais fez, e continua fazendo, sucesso no Brasil. Como explica o sucesso desses personagens, que divertiram mais de uma geração?
Maurício de Sousa: Procuro sempre falar a língua do dia e da hora, para não ficar defasado com nossos leitores. Essa interação entre autor e leitor é essencial para manter o público.

Quais eram as suas expectativas quando resolveu criar a Turma da Mônica?
Maurício de Sousa: Como comecei a publicar em um jornal de grande destaque na mídia, sempre acreditei no sucesso da Turminha. Passei por muitas dificuldades, como todo mundo que resolve acreditar em seus sonhos. Mas a persistência deu resultado.

As histórias do Chico Bento também fazem bastante sucesso com as crianças que moram na cidade. Por que elas demonstram grande aceitação, sendo que possuem uma vida diferente da retratada nos quadrinhos?
Maurício de Sousa: Criança gosta de brincadeiras e também de locais onde possam correr e se divertir com os amigos. Mesmo as que moram nas grandes cidades não deixam de buscar esses lugares. Nossas histórias, inclusive, ajudam para que elas não se esqueçam de que nada substitui estar ao vivo com alguém brincando. O Chico Bento traz essa questão de não abandonar a roça pela cidade, como muitos fazem. E será bem mais desenvolvido no próximo lançamento que é o Chico Moço (versão do personagem adolescente, como aconteceu com a Turma da Mônica Jovem). Aguardem!
Mônica é a embaixadora do UNICEFFoto: Divulgação/ MSP
O que você procura passar aos leitores quando produz suas histórias?
Maurício de Sousa: Humor, criatividade e alguns conceitos básicos de vida. Em nossas historinhas, os problemas sempre são resolvidos no final.

Ao longo de sua carreira, a sociedade passou por diversos períodos e sofreu várias mudanças. O que foi necessário para atravessar essas variações sociais e não perder o interesse dos leitores pelos seus quadrinhos?
Maurício de Sousa: Ter o contato direto por meio das redes sociais, Twitter, encontros de autógrafos etc. Assim sei exatamente com quem estou dialogando através das historinhas sem defasagem de tempo.

As crianças desta geração estão bem mais informadas e maduras, em comparação com as de décadas passadas. Por isso, ficou mais fácil ou mais difícil escrever para este público?
Maurício de Sousa: O público leitor está cada vez mais exigente. Justamente por ter acesso a informações que dão mais conteúdo para uma escolha. Por isso, está cada vez mais difícil escrever para esse público. Mas o desafio é algo bom para que tenhamos cada vez mais criatividade em nosso estúdio.

Alguns autores dizem que escrever para crianças é mais difícil do que para adultos. O que acha dessa opinião?
Maurício de Sousa: Errado. Todo adulto já foi uma criança. É pensar que a criança nunca morre dentro de uma pessoa que já virou adulta.

Suas histórias, na maioria das vezes, acontecem ao ar livre. Porém, as crianças atualmente estão cada vez mais privadas de brincar na rua por vários motivos, como, por exemplo, a violência. Como você enxerga essa situação?
Maurício de Sousa: Depende de como as pessoas observam o problema. A violência só aumenta por conta da falta de convívio das pessoas. Se as crianças brincarem juntas, serão adultos melhores e menos violentos.

Em agosto de 2008, foi publicada a primeira edição da Turma da Mônica Jovem. Quando surgiu a ideia de lançar essa nova versão e por quais motivos?
Maurício de Sousa: A Turma da Mônica Jovem veio de uma lacuna que tínhamos entre essas duas faixas de público, que fica entre os adolescentes de 12 e 15 anos. Percebi que estávamos perdendo leitores dessa faixa para os mangás (quadrinhos japoneses). Como já havia uma curiosidade sobre como seriam os personagens na adolescência, tanto do público quanto nossa, resolvemos encarar o desafio. Fizemos uma espécie de 'mangá caboclo' que hoje é o maior sucesso dos últimos 30 anos no mercado de quadrinhos.

Só as quatro primeiras edições venderam, juntas, mais de 1,5 milhão de exemplaresFoto: Divulgação/ MSP

Quais foram as preocupações que vocês tiveram para fazer essa mudança nos personagens?
Maurício de Sousa: Evidentemente houve uma adaptação gráfica que não deixasse os leitores habituais perderem a referência de cada personagem. O Cebolinha de 15 anos lembra o Cebolinha de 7 das historinhas clássicas. Isso foi fundamental. Tanto que, embora nosso público-alvo seja o adolescente, muitas crianças de sete, oito anos estão lendo e gostando da Turma da Mônica Jovem.

Após o lançamento, houve críticas a esta mudança. Muitos se chocaram ao ver os personagens com um novo vestuário, outro vocabulário... Como encarou essas críticas e o que acha delas?
Maurício de Sousa: Toda mudança vem com críticas boas e não tão boas. Foram poucas ruins. Mas procuramos aceitar algumas delas para melhorar o produto. Até mudamos o nome de um personagem por conta disso (o anjinho Céuboy passou a se chamar Ângelo). A resposta está nas bancas e mostra que agradamos à maioria.
Mauricio de Sousa entrevista leitores exigentesFoto: Divulgação/ MSP
Estamos na era digital, em que tudo acontece na tela de um computador, de um celular... Com isso, há quem diga que no futuro o papel será cada vez menos utilizado para produzir livros, revistas, jornais etc. O que você acha desse prognóstico?
Maurício de Sousa: É importante sabermos caminhar com as novas plataformas que surgem a todo instante no mundo moderno e, ao mesmo tempo, não deixarmos de trabalhar sobre o principal que é o conteúdo. Já está provado que o público vai atrás do conteúdo e depois escolhe a mídia que quer para isso.

Agora, ao olhar para trás e ver tudo o que você construiu, qual a sensação que sente?
Maurício de Sousa: De alegria, mas com muita responsabilidade. Temos mais de 50 anos de trabalho construindo algo que não é fácil de se conseguir. Para manter esse status é preciso humildade para aceitar críticas e, ao mesmo tempo, não perder o espírito inventivo.

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